Radiografia do Crédito e Endividamento das famílias de Vitória

O levantamento liderado pela Fecomércio São Paulo (SP) mostra os dados do perfil do crédito e endividamento em todas as capitais brasileiras, entre os anos de 2014 e 2016. De acordo com a entidade, a análise desses três anos é particularmente importante para se compreender o papel do crédito no processo de desaceleração do consumo iniciado em 2014, como parte importante do fraco desempenho do nível geral das atividades econômicas verificado nesses últimos anos.

Seguindo a mesma lógica aplicada para análise do Brasil e o conjunto de suas capitais, a Fecomércio Espírito Santo (ES) refinou os dados da capital Vitória para uma análise mais apurada sobre a localidade.

Rendimento das famílias

Em toda a análise se torna relevante, primeiramente, verificar comportamento das variáveis da renda no mesmo período, o que dará uma visão melhor do desempenho do endividamento, observado nas mudanças de comportamento do consumidor sobre a intenção de consumo e uso do crédito.

Pelos dados é possível verificar que, enquanto o crescimento do número de famílias foi de 2,1%, houve uma redução de 10,2% na renda média mensal familiar que passou de R$ 7.716 em dez/2014 para R$ 6.925 em dez/2016. Isso provocou uma queda de 8,0% no total de rendimentos das famílias de Vitória em dez/2016, que passou de cerca de R$ 910 milhões para R$ 834 milhões.

Entre as 27 capitais brasileiras pesquisadas, Vitória ficou na 21ª colocação no quesito evolução da renda média mensal familiar entre dez/2014 e dez/2016, obtendo uma variação negativa de 10,2%. Somente 8 capitais apresentaram variação positiva, com destaque para São Luís-MA que registrou crescimento de 21,7% no período. Já a última colocada nesse ranking foi Florianópolis, em Santa Catarina, com recuo de 23,5% no indicador.

Endividamento e uso do crédito

Os indicadores do endividamento e uso do crédito analisados aqui consideram os comparativos dos meses de dezembro dos anos de 2014 e 2016. Eles são resultados de uma avaliação mais detalhada dos dados da Pesquisa de Endividamento e Inadimplência (PEIC), produzidos pela Confederação Nacional do Comércio (CNC).

Nesse tópico foram analisados os principais indicadores de dívidas das famílias, a saber: taxa endividamento, número de famílias com dívidas, valores totais e médios das dívidas (em reais) e nível de comprometimento da renda com empréstimos.

Nos últimos três anos, iniciados em 2014, o cenário que o país tem enfrentado é de forte crise econômica e política. O ambiente de incertezas geradas afetou também, além de outros fatores, a confiança, diminuindo a disposição em consumir. Esses impactos podem ser visualizados nos indicadores apresentados a seguir.

Como foi citado anteriormente, a renda média mensal das famílias de Vitória e o total de rendimentos caíram no período considerado. Sobre a utilização do crédito, verifica-se que a taxa de endividamento caiu entre dez/2014 e dez/2016, passando de 72,5% para 67,8%, mas a inadimplência aumentou 11 pontos percentuais (p.p.), passando de 20,8% para 31,8%.

Nesse período conturbado, a combinação da crise nas atividades econômicas junto com as incertezas políticas resultou em alto desemprego, inflação e crédito mais caro. Todos esses fatores influenciaram na retração do consumo, no alto endividamento e na escalada da inadimplência.

Apesar da queda entre dezembro de 2014 e dezembro 2016, o endividamento da capital Vitória continuou alto. No ranking do Endividamento das famílias das capitais brasileiras, Vitória ficou na 12ª posição no quesito, com uma taxa de 68% sendo acima da média brasileira (57%). Dentre as quatro capitais da Região Sudeste, a capixaba foi a única a registrar taxa de endividamento acima da média brasileira.

Já no ranking da inadimplência das famílias, Vitória ficou em 7º lugar entre as capitais brasileiras, registrando 32% das famílias com dívidas em atraso em dezembro de 2016 e, também, ficando bem acima da média brasileira (23%).

Ao longo do ano de 2016 o que se observou foi que as famílias, sobretudo no segundo semestre do ano, estavam mais propensas a pagarem suas dívidas, mas não estavam sendo capazes de cumprir os prazos. A inadimplência nesse ano registrou a maior taxa entre todos os anos pesquisados. Nessa ocasião, ainda estavam sendo sentidos os reflexos de um período de alto consumo, nos anos anteriores, com utilização de modalidades caras de crédito, como o cartão de crédito. Para se ter uma ideia, em 2014, o cartão era o principal tipo de dívida para cerca de 80% das famílias de Vitória.

Oferta de crédito

Conhecidos os indicadores da demanda por crédito, tornou-se importante conhecer o lado da oferta de crédito. Pelos indicadores de crédito no Brasil é possível se ter uma ideia de quanto a política monetária praticada no período influenciou o perfil de consumo e também de endividamento (e inadimplência) do brasileiro. Mesmo não sendo possível uma segmentação dos dados por capitais observa-se pelos indicadores brasileiros o quanto o saldo da carteira de crédito com recursos livres desacelerou. Esses recursos são aqueles contratados com taxas de juros livremente pactuadas entre tomadores e instituições financeiras e reúne todas as linhas de financiamento ao consumo. A elevação das taxas médias de juros para essa modalidade (pessoas físicas) influenciou sobremaneira a situação do orçamento das famílias atualmente.

Entre dezembro de 2014 e dezembro de 2016, o que se viu foi a crise econômica do Brasil produzindo uma forte contração na massa de rendimentos das pessoas ocupadas em todas as capitais. Esse cenário também foi responsável por frear a intenção de consumo das famílias que, em Vitória, está em seu mais baixo nível histórico.

Aqueles que se arriscaram a tomar um empréstimo nos últimos dois anos se depararam com taxas maiores, o que aumentou o custo da dívida e o comprometimento da renda. Esses fatores juntos prejudicaram sobremaneira o desempenho das vendas do comércio: só para se ter uma ideia, para todo o Espírito Santo em 2016, as vendas do comércio na modalidade restrita mostraram uma retração de 10,6% em comparação com o ano de 2015.

Comentários

Em geral, o perfil de endividamento das famílias apresentou alterações ao longo dos anos de 2014, 2015 e 2016. Observou-se uma menor utilização do cartão de crédito em 2016 (que é uma dívida mais cara) registrando uma média anual de 60%, uma diferença em torno de 10 a 20 pontos percentuais em relação aos anos anteriores, como em 2014 (80%, em média). Em contrapartida houve uma maior utilização do crédito pessoal e carnês, que possuem taxas de juros menores.

Essa mudança foi importante, mas o cenário enfrentado pelas famílias com a perda dos empregos de parte de seus integrantes tem dificultado o cumprimento dos compromissos. Além disso, certamente, dívidas adquiridas em período anterior ao desemprego (período de alto consumo) ainda estão sendo contabilizadas nos indicadores mais atuais de endividamento e inadimplência.

Esse acúmulo de dívidas passadas junto à dificuldade cotidiana de equilibrar as contas faz com que as famílias enfrentem um malabarismo para fazer frente às despesas do orçamento mensal. Em Vitória, a baixa intenção de consumo das famílias junto ao alto endividamento e inadimplência sugere a utilização do crédito para outras despesas correntes, como compras de supermercado e pagamentos de contas da casa, por exemplo.

Essa situação faz com que as famílias ainda recorram pontualmente às modalidades mais fáceis e imediatas, com juros mais caros (como o cartão de crédito e o cheque especial, por exemplo). O problema é que toda vez que esse tipo de crédito é adotado as famílias assumem o risco de a dívida aumentar significativamente em um curto espaço de tempo frente a qualquer imprevisto que venha impedir o pagamento no prazo determinado.

O endividamento, por si só, não deve ser considerado ruim se por trás existe uma capacidade de pagamento compatível. A inadimplência em nível elevado é o indicador mais preocupante, pois revela queda na qualidade do endividamento das famílias. E é isso que se observa nas famílias de Vitória, diante dessa dificuldade do orçamento mensal as famílias acabam utilizando o crédito de forma não planejada e desestruturada, fazendo com que os indicadores permaneçam em níveis elevados.

Fonte dos dados: Fecomércio-SPAnálise dos dados Vitória-ES: Assessoria Econômica Fecomércio-ES

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